quinta-feira, novembro 18, 2010

Sem saber – lá no começo

Retirado de: http://www.formspring.me/gustavogitti/q/1454590060

Gitti, o que te levaria a terminar um namoro?

Se eu estiver confuso, 1 milhão de coisas. Quando operamos sob ignorância, sempre pensamos que é a realidade que nos faz sentir isso ou aquilo, não nossa mente. Então colocamos a culpa no outro (ou num terceiro ou numa situação ou em nós mesmos) em vez de observar que sofremos porque há estruturas que estão nos fisgando. Emoções perturbadoras, venenos da mente, fixações, chame do que quiser.

Se eu não estiver tão confuso e tiver algum nível de lucidez, bom, aí eu terminaria se a quantidade de confusão for maior do que a quantidade de benefício e felicidade gerada por nós em 4 direções: eu para ela, ela para mim, ambos para a comunidade/sociedade e o casal para cada um (ou seja, como a existência do relacionamento me faz avançar ou não, e a faz avançar ou não em outros âmbitos e em outras relações).

Considero crucial observar essas 4 direções. Às vezes uma relação se resume num certo tipo de agrado de um para o outro, mas o casal não beneficia os outros e o relacionamento não faz cada um avançar na vida.

É muito complicado prever isso. Às vezes a melhor coisa é acabar tudo, cortar contato e seguir. O outro pode estar nos aprisionando de um jeito tão sutil e monstruoso que só teremos noção do estrago quando estivermos construindo outras relações e renascendo de outros modos.

Aí a gente olha pra trás e diz: "Porra! Como eu pude perder tanto tempo! Como eu não percebi que estava parado e torto desse jeito?". Aí você acorda como de uma noite longa em que ficou o tempo todo dormindo com o pescoço torto.

E às vezes a melhor coisa é lidar com as perturbações e obstáculos pois vai demorar para termos essa chance de novo, vai demorar para que o outro nos fisgue e traga nossas fixações à tona.

Nesse caso você acorda no meio da noite, sem pedir divórcio, arruma sua posição, toma uma água, respira fundo e enfrenta o seu torcicolo, já desejando que ela não sinta essa dor. Você então arruma a posição desse corpo bonito ao seu lado e dá um beijo na nuca para que ela possa acordar também.

...

Mais do que discutir ou disparar conselhos, promessas, exigências, é esse agir silencioso que transforma uma relação.

Ora, o começo do namoro se dá sempre assim, em silêncio, à distância. A gente pensa que a relação se aprofunda nas longas noites de sexo e mil prazeres a dois, mas é de segunda à quinta que o amor cresce, silenciosamente, na motivação interna de continuar aquele filme e não seguir em outra direção (afinal somos livres para trocar de filme a qualquer momento).

Se precisamos curar algum ponto da relação, é assim que fazemos, igualzinho fizemos – sem saber – lá no começo. Por dentro, não no outro. Quieto. À distância.